Bosque de Forks

“Que coisa linda, você preocupada com sua maninha...” Ouvi seu tom zombeteiro atravessar as barreiras firmes do meu orgulho, e foi impossível não rir também. Essa cena era tão constante entre a gente que levar a sério seria muita idiotice da minha parte. Digamos que esse senso provocativo a gente desenvolveu passando muito tempo discutindo. Você não gostaria de ver nós duas trocando idéias diferentes sobre algo, como uma luta entre Chuck Norris e Jet Li. Quer dizer, todo mundo sabe que Jet Li derrubaria Chuck Norris no primeiro golpe, ele foi campeão de Kung Fu cinco vezes consecutivas na China, e em minha opinião as lutas do Norris chegam a ser até... Banais. Pois é, diga isso para minha irmã agora e você provavelmente vai levar uma tapa na cara, como ela quase fez comigo.

Enfim, só eu sabia os principais pontos fracos de Boo, assim como ela sabia exatamente dos meus gostos e o que tem o meu desprezo eterno. Ela sabe que músicas eu escuto antes de dormir, ela sabe o que eu canto quando estou sozinha, ela sabe até qual é a primeira coisa que eu olho em um garoto. Coisas que a gente só percebe com muitos anos de convivência, que é perfeitamente o nosso caso. “Golpe Baixo!” Boo dissera em um fôlego só, por causa das cócegas que eu fazia nela. Com o tempo fui diminuindo a intensidade das cócegas, o que provavelmente fora a deixa para ela reagir quando eu menos esperava.

Senti suas patas sobre o meu corpo, e um segundo depois eu já estava no chão, com as patas dianteiras de Boo acima de mim, impedindo-me de qualquer tipo de fuga. “Ei, não vale!” Fiz um muxoxo, antes de ver seus dentes serem expostos pra mim. Semi serrei os olhos para ela, desafiante, mostrando que eu não tinha medo de dentes, pois eu também os tinha. Respirei pela boca, encarando minha irmã fixamente. Contudo, antes de eu bolar uma estratégia boa o suficiente para virar a mesa, um odor estranho invadiu o meu focinho, e eu funguei para o lado. “Vampiro...” Pensei receosa, inspirando aquele cheiro novamente, só que agora ele viera composto. “Lobisomem...” Reconheci o segundo cheiro, mas o terceiro era algo que eu jamais sentira.

Engoli a seco e voltei a olhar Boo. “Que porra é essa?” Rosnei irritada. Não com minha irmã, e sim com os seres. Não sei por quanto tempo fiquei ali, ponderando, mas depois de algum tempo o cheiro desapareceu, tão facilmente como viera. Graças, o cheiro de vampiro revirava o meu estômago de tanto fedor. Queria poder voltar a forma humana agora, mas as minhas roupas e as de Boo haviam explodido com a transformação repentina. Amaldiçoei-me até a quarta geração por ter feito aquilo, então pensei/perguntei à minha irmã: “Será que eles vão voltar?” Esperei sua reposta, enquanto continuava presa no chão. “Já pode me soltar, sabia?” U_U Bufei em uma risada divertida.

I was a heavy heart to carry

É, olha onde eu vim parar. Depois de invadir a casa de um italiano rico, eu acabei cansando de Roma. Peguei minhas coisas e embarquei em uma nova aventura. Afinal, não é isso que os nômades fazem? Comprei uma passagem para um lugar qualquer, onde eu poderia encontrar novos amigos e, quem sabe, um amor?
Ha. Até parece.
E, enfim, eu vim parar em Forks. Uma cidadezinha em Washington. Não é grande, mas não faz sol, e eu sinto uma grande presença de vampiros aqui. Então, não parece ter sido uma ideia tão ruim morar aqui. Matei o dono de uma casa pequena para que eu pudesse morar nela. Fiquei com peso na consciência, pois depois que encontrei vampiros como aqueles, Peter e Charlotte, descobri que eu não tenho de ser má. Eu posso beber sangue de animais para viver.
Penteei meus cabelos loiros e coloquei jeans, uma blusa branca e botas de caminhada. Saí rondando pela cidade, e consegui não matar ninguém. 200 anos nas costas, mas eu nunca melhorei.
Parei de correr quando cheguei a um... bosque? Parecia vazio aos meus olhos. As árvores eram tão altas que chegava a ser um lugar sombrio, escuro. Franzi o nariz e farejei o ar. O animal estava perto. Ele corria em minha direção.
Pobrezinho.
Fiquei inerte, prestando atenção, ouvindo seus passos. Toc, toc, toc. Ele chegava mais perto. O cheiro de animal ficava mais forte. Será que eu conseguiria experimentar uma coisa nova?
O cervo apareceu. Quando ele entrou no meu campo de visão, "voei" para a esquerda, me agarrando ao seu pescoço. Ele parou de correr e eu cravei meus dentes em seu pescoço, que os atravessaram como se eu estivesse mordendo manteiga. Suguei o sangue, mas logo soltei o corpo do pobre animal, que se debatia experimentando seus últimos segundos de vida. Eca! Como vampiros conseguiam se alimentar daquilo? Parecia... tofu! Ou vegetais!
Engoli o gosto ruim, mas me senti mais forte. Encostei-me em uma árvore e esperei o tempo passar... Afinal, eu não tinha nada pra fazer.






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I was a heavy heart to carry

Aquele cheiro terrível parecia ter ficado colado em minha pele. Droga. Esfreguei meu rosto, mas percebi que era inútil. Ia precisar de um belo banho depois. Olhei em volta, procurando um humano para atacar. Nada. Parecia mesmo que aquele lugar só era habitado por mim... e pelo cervo defunto.
Até que escutei passos, afagando folhas. Uma presença gelada... vampiro.
Virei-me para olhar na direção de meu acompanhante. Ele tinha olhos negros... como quando eu estou com sede. Fitava meu rosto como se eu fosse uma espécie assustadora de animal.
- Olá. - Saudei-o.






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